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Mostrando postagens de 2016

Banca sem Parede II

BANCA SEM PAREDE

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BRASÍLIA ASSISTE A RARA CONJUNÇÃO CÓSMIC0-ARTÍSTICA-SENSORIAL-DEGUSTATIVA POR QUÊ? Porque precisamos transformar o mundo com arte. QUEM? Escritores incríveis, ilustradores sensacionais, artistas plásticos fantásticos. QUANDO? Sábado, 10 de dezembro, a partir das 13h. ONDE? No ponto de maior concentração energética do planeta. Vênus rege a Ala de Escritores e Editoras Independentes. PICNIK NA PRAÇA DOS CRISTAIS facebook.com/picniknocalcadao www.picnik.art.br bancasemparede@gmail.com

Como nasce uma velhota

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Conheça o processo de criação do livro Velhota, eu?  2ª edição 2013 Equipe Luci Afonso  (autora)  |  Patrícia Meschick  (design e diagramação )  Eudaldo Sobrinho - Neno  (design e ilustrações ) https://www.behance.net/gallery/26185751/Velhota-eu

Resenha de Velhota, eu? no Bússola Literária

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Palavra do Editor Arisson Tavares da Silva Novembro de 2016 Nossa sugestão de leitura para o mês de novembro de 2016 foi Velhota, Eu?, de Luci Afonso. Já de cara, gostei muito da capa e da diagramação da segunda edição do livro (revisada e ampliada). Não é a toa que outra obra da autora, Senhora dos Gatos, foi finalista do 55º Prêmio Jabuti de Literatura na categoria Melhor Ilustração e ganhou o 14º Prêmio Jorge Salim de Excelência Gráfica na categoria Design Gráfico. Enfim, com as ilustrações de Eudaldo Sobrinho e diagramação de Patrícia Meschick, o livro já me encantou só pela qualidade gráfica. Após começar a leitura, percebi que, para acompanhar textos tão interessantes, a diagramação na verdade estava à altura. Para mim, que conheci pessoalmente a autora, foi divertido ver por meio das letras uma Luci ousada e 100% cômica (que vive escondida por trás de uma senhora aparentemente tímida e de voz baixa). A crônica que deu nome ao livro é uma p

Bate-papo com Luci Afonso

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QUEM DISSE QUE ALUNO NÃO GOSTA DE LER? Gosta, sim, pelo menos os alunos da E.M. Profa. Auxiliadora Paiva, em Araxá, Minas Gerais. Veja as fotos do nosso encontro: https://www.facebook.com/profile.php?id=100000434529474&sk=photos&collection_token=100000434529474%3A2305272732%3A69&set=a.1355298954494576.1073741844.100000434529474&type=3&pnref=story

Querido Fred

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                                                                                                     Luci Afonso Olhou bem a sua volta, para certificar-se de que não era seguida. Apesar do sol forte, vestia moletom com capuz e óculos escuros enormes, que comprara na Feira dos Importados. Viu-se refletida numa vitrine e concluiu que estava mesmo irreconhecível. Deu duas voltas no prédio antes de descer o lance de escadas para o subsolo mal iluminado. Eram quatro horas da tarde. Ninguém à vista. As poucas lojas pareciam vazias, inclusive a lojinha do canto, a que se destinava.  Tinha cronometrado toda a operação, sem possibilidade de erro. Virou-se à esquerda e entrou. Uma jovem punk veio atendê-la com um sorriso de fazer inveja: — Pois não, senhora. Posso ajudá-la? Nas outras tentativas, tinha chegado até este ponto e recuado, com a desculpa de que se enganara de loja. Hoje, porém, tomou coragem e respondeu: — Sim, querida. — Acho que sei o que a senhora deseja. Me ac

A banca exterminadora

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Luci Afonso Apoiei-me bem no tampo da mesa, dei um grito e levantei-me, ignorando a dor dilacerante nas coxas. Abaixo da cintura, tudo doía. Era preciso enorme esforço para levantar da cadeira ou da cama. O ortopedista diagnosticara inflamação no ciático. Isso porque, nos últimos três meses, eu passara horas incontáveis ao computador, escrevendo meu Trabalho de Conclusão de Curso. Apesar da idade, era a primeira vez que eu fazia o TCC. Quando mais jovem, eu começara a faculdade quatro vezes sem terminá-la. Sempre a mesma história: eu passava no vestibular, iniciava o semestre, ia desanimando, começava a faltar e acabava deixando o curso. Desta vez, pretendia me formar. O fluxo curricular se invertera, porque eu havia abandonado o Estágio Supervisionado II por medo dos alunos. Agora, ao TCC se seguiriam dois semestres de estágio obrigatório, mas eu só conseguia pensar num problema de cada vez. Terminada a Licenciatura, planejava fazer uma breve pausa, e logo depois uma pós-gr

Alice pegou o seio

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Luci Afonso Eu brincava de luzes na sala, quando Dôra apareceu na porta da cozinha: — Alice pegou o seio! — ela disse, radiante. A segunda neta levara doze horas para nascer e, passados três dias, ainda não pegara o seio materno, que explodia em leite. A notícia me encheu de esperança. Eu brincava de luzes quando estava triste. Pegava duas ou três pulseirinhas coloridas e transparentes, colocava no braço esquerdo e o movimentava ao sol. De preferência, às dez da manhã, por causa da inclinação da luz. Me sentava perto da janela e observava o reflexo estendendo-se pela sala e criando um círculo ao meu redor. Sempre gostei de reflexos. Parecem carinhos. Além de brincar de luzes, nos dias mais difíceis — segunda, quarta, sexta e domingo — eu fazia uma festa de mentirinha. Ligava o rádio bem alto, tirava os chinelos e girava descalça pela casa. Parecia louca, mas estava só triste. A gatinha me concedia a dança a contragosto, e meu filho servia de parceiro relutante, mas gent

Consentimento

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Luci Afonso Lavar a louça com detergente branco como o gozo da noite passada. Arrumar a cama, cobrindo os vestígios de amor no lençol. Dobrar cobertores e alisar travesseiros. Abrir a janela para iluminar o quarto. Trocar toalhas manchadas de prazer. Lavar roupas íntimas a mão com sabonete cremoso. Separar a lingerie vermelha e as calcinhas de seda. Deixar de molho para tirar o cheiro do sexo. Vestir as meias-ligas de renda preta. Usar a tornozeleira dourada. Posicionar o espelho na beira da cama. Esperar nua o barulho da chave na porta. Abrir devagar o zíper da calça preta. Gritar “ai, amor”, quando ele a tomar com força. Consentir quando ele a chamar de “quase noiva”. Dizer ao seu ouvido “Aceito”, quando ele rugir de prazer. Ninguém me disse que era tão fácil ser feliz. Comentários no Facebook: Cinthia Kriemler Que plenitude, hein? Quanta vida nessas marcas e manchas. Feliz por você! E surpresa de t

A vista de cima

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                                                                                                                                    Luci Afonso Beatriz e Cecília Valentina brincam embaixo de um jovem ipê amarelo. Uma delas sobe no pequeno galho onde despontam os primeiros brotos, a menos de dois metros de altura. — Como é a vista aí de cima? — pergunta Beatriz, que está no chão. Cecília Valentina observa em volta e responde, com enlevo: — É linda, Beatriz! Saio cedo para caminhar. Uso chapéu bordado e levo câmera de bolso para registrar os acontecimentos diários — flores caídas, folhas ao vento, pessoas ao despertar. É a melhor parte do dia, antes dos sintomas e flutuações dos remédios. A médica recomendou olhar bem onde piso. Já levei dois tombos, típicos da fase em que me encontro, mas não consigo fixar os olhos no chão — pelo menos, não enquanto velhinhos encantadores e senhoras estrangeiras tristes cruzarem o meu caminho. Tenho uma coisa com velhinhos: compa

Bom dia, Deus

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Luci Afonso Não uso despertador. Às sete em ponto, minha gata Hannah abre a porta do quarto e pula na cama, querendo pescocinho — nome que dei ao carinho no pescoço, que a faz ronronar de prazer. Em troca, ela me lambe com sua linguinha áspera e morde meu dedão do pé, seu eu não estiver acordada. O pescocinho é repetido várias vezes ao dia, e é ela que determina a duração. Quando está satisfeita, levanta-se e vai cuidar da vida. Durmo mais um pouco. Às sete e quarenta e cinco, Anacleide traz a bandeja com o café da manhã, junto com uma flor que ela roubou no caminho. Não, ela não é homoafetiva, é uma alma pura que se apaixonou por mim e me cerca de cuidados, como se tivesse adotado uma criança grande.    Preparo-me para caminhar. Faz um pouco de frio, mas eu gosto assim. Me aconchego em mim mesma e dou três voltas na quadra. A cada dia aumento o trajeto, em busca de mais endorfinas.  Depois do banho morno, coloco o vestido longo que sempre uso em casa e os colares de semen

Para Olivia

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Luci Afonso Olivia querida, Quando soltamos os balões coloridos em direção ao céu e dissemos em coro “Elicio! Elicio!”, senti-me tão viva!  Quanto mais alto voavam, mais forte era meu desejo de viver. Me perdoa? Seu grito “Acaboooou!”, quase partindo-a em duas, ecoa em mim após tantos dias. Onde encontrou forças para colocar a poesia na roda? Como se lembrou de distribuir rosas, poemas e balões coloridos? Por que agradeceu, quando é você que merece gratidão? Ao velar o corpo de Elicio, você parecia cuidar de um filho no berço ou de uma planta no jardim. Você reparou que o sol se escondeu, que as nuvens escureceram, que o vento se aquietou? O tempo fechou os olhos e fez um minuto de silêncio para que vocês se despedissem em paz. Outros falecimentos aconteciam à nossa volta naquela tarde, mas nenhum de um poeta, como o nosso. Dizem que o outono é a estação do ano preferida de quem parte (talvez pela temperatura amena), e a mais temida de quem fica. Dizem também que o fim de

Posse na Academia Internacional de Cultura - AIC

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Brasília, DF, 31 de março de 2016

Boas-Vindas

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Luci Afonso Bom dia. Confesso que não esperava sua visita. Não acreditei quando me contaram que o senhor havia chegado. Por que eu? Por que agora? Por que para sempre? Não poderia esperar mais um pouco? Esforcei-me para acomodá-lo, mas no fundo eu me rebelava contra sua presença em minha vida. Claro que eu tinha ouvido falar do senhor, mas parecia algo tão remoto. Nunca pensei vê-lo de perto. De dentro. Ao lado. À frente. Não sei como dizer... O senhor não é bem-vindo. Perdoe a franqueza, mas sei que já ouviu isso antes. Eu queria que nunca tivesse me olhado, que nunca tivesse me tocado. Eu seguiria tranquila. Agora que veio, porém, é preciso recebê-lo bem. Arrumar o quarto, fazer a cama, espanar os móveis. Um hóspede será sempre um hóspede. É bom perguntar o que pretende, do que precisa, quanto tempo planeja ficar. Ou há alguma maneira de convencê-lo a ir embora? Desde que o senhor chegou, não durmo direito. Passeio pela varanda, conversando com a noite. Não ten

Monstrinho

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Luci Afonso Nossa rua tem um retardado que vive numa cadeira de rodas. O nome dele é Geraldo, mas longe dos adultos nós o chamamos de Monstrinho. Fui eu que inventei o apelido, porque ele se parece muito com um monstro que tem no livro da escola. Geraldo é filho do Zedelino, dono do boteco na esquina com a avenida Getúlio Vargas. O lugar vive cheio, ora de pinguços jogando truco, ora de crianças encardidas comprando balinhas. Todo mundo diz que o Zedelino tem muito dinheiro guardado, mas ninguém tem certeza. Ele só usa roupas surradas e dirige uma Kombi caindo aos pedaços para transportar mercadorias. Eles moram nuns cômodos fedidos no segundo andar do boteco. Monstrinho passa o dia na janela, olhando o movimento. Só sai para ir ao médico na Santa Casa. Dizem que ele vai viver pouco, por causa do retardamento. Também, pra que viver muito desse jeito? Melhor morrer logo. Igual à mãe dele, que morreu no parto. Ele nos observa com atenção enquanto jogamos bola