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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

This spring

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Luci Afonso This spring I'll stay home. Lying on the couch, I hear the suicidal scream of cicadas. Leaning over the balcony, I gather fresh drops of rain, the first and the last. At night, the moon crosses the blinds of the bedroom and lights up my body, curled on the Egyptian 500-thread sheets. As for company, I only want my son's, my mother's and my cat's, spontaneous extensions of myself. Voices, only those of dear spirits, of small children, or the lonely elderly. Caresses, only those of the wind, which kindly refreshes my face. Men, don't look at me: I'm ugly. Friends, don't look for me: I'm absent. Why meet people? I've met all I can stand. I don't need facts – the world spins without me. I'm only interested in the leaf fallen on the grass and in the poem whispered by the ancient tree. I fade away in this inverted spring. I penetrate the dark depths of the earth to implode my singing, until the white death of the

Prêmio Melhores Poetas 2014

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                                       Hotel Golden Tulip Regente, Rio de Janeiro, 08/02/2014

O gato sou eu

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    Fernando Sabino   — Aí então, eu sonhei que tinha acordado. Mas continuei dormindo. — Continuou dormindo. — Continuei dormindo e sonhando. Sonhei que estava acordado na cama, e ao lado, sentado na cadeira, tinha um gato me olhando. — Que espécie de gato? — Não sei. Um gato. Não entendo de gatos. Acho que era um gato preto. Só sei que me olhava com aqueles olhos parados de gato. — A que você associa essa imagem? — Não era uma imagem: era um gato. — Estou dizendo a imagem do seu sonho: essa criação onírica simboliza uma profunda vivência interior. É uma projeção do seu subconsciente. A que você associa ela? — Associo a um gato. — Eu sei: aparentemente se trata de um gato. Mas na realidade o gato, no caso, é a representação de alguém. Alguém que lhe inspira um temor reverencial. Alguém que a seu ver está buscando desvendar o seu mais íntimo segredo. Quem pode ser essa alguém, me diga? Você deitado aí nesse divã como na cama em seu sonho,

A arte de não fazer nada

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Cecília Meireles Dizem-me que mais de metade da humanidade se dedica à prática dessa arte; mas eu, que apenas recente e provisoriamente a estou experimentando, discordo um pouco da afirmativa. Não existe tal quantidade de gente completamente inativa: o que acontece é estar essa gente interessada em atividades exclusivamente pessoais, sem consequências úteis para o resto do mundo.   Aqui me encontro num excelente ponto de observação: o lago, em frente à janela, está sendo percorrido pelos botes vermelhos em que mesmo a pessoa que vai remando parece não estar fazendo nada. Mas o que verdadeiramente está acontecendo, nós, espectadores, não sabemos: cada um pode estar vivendo o seu drama ou o seu romance, o que já é fazer alguma coisa, embora tais vivências em nada nos afetem. E não posso dizer que não estejam fazendo nada aqueles que passam a cavalo, subindo e descendo ladeiras, atentos ao trote ou ao galope do animal. Há homens longamente parados a olhar os patos na água.