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Mostrando postagens de março, 2011

Sobre a criação literária

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Lygia Fagundes Telles              A Criação Literária O preço da criação literária seria mesmo o sofrimento? Penso na minha experiência e lembro que justamente nos instantes mais agudos das minhas atribulações eu não consegui escrever uma só palavra. Mesmo depois, na convalescença, se vinha a vontade, faltava a energia, o movimento era apenas da alma. Olhava para a minha mesa como alguém com sede fica olhando um copo d'água: quer beber mas fica rodeando o copo, faz outras coisas antes e embora pense o tempo todo na água, não faz o gesto para alcançá-la. Não sei dizer se os frutos colhidos mais tarde (alguns até doces) teriam vindo dessa figueira-brava. O Escritor e o Leitor Nada fácil testemunhar este mundo com tudo o que tem de bom. De ruim. Um mundo grande, que vai além da chácara do vigário. Diante de si mesmo, diante do papel o escritor se sente grande porque sua tarefa é digna. Pode ser corrompido mas não corrompe. Pode ser louco, mas não vai enlouquecer o leitor, a

O Cronista é um Escritor Crônico

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Affonso Romano de Sant'Anna O primeiro texto que publiquei em jornal foi uma crônica. Devia ter eu lá uns 16 ou 17 anos. E aí fui tomando gosto. Dos jornais de Juiz de Fora, passei para os jornais e revistas de Belo Horizonte e depois para a imprensa do Rio e São Paulo. Fiz de tudo (ou quase tudo) em jornal: de repórter policial a crítico literário. Mas foi somente quando me chamaram para substituir Drummond no Jornal do Brasil, em 1984, que passei a fazer crônica sistematicamente. Virei um escritor crônico. O que é um cronista? Luís Fernando Veríssimo diz que o cronista é como uma galinha, bota seu ovo regularmente. Carlos Eduardo Novaes diz que crônicas são como laranjas, podem ser doces ou azedas e ser consumidas em gomos ou pedaços, na poltrona de casa ou espremidas na sala de aula. Já andei dizendo que o cronista é um estilita. Não confundam, por enquanto, com estilista. Estilita era o santo que ficava anos e anos em cima de uma coluna, no deserto, meditando e pregando. São

Um teto todo seu

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Virginia Woolf (Trechos de duas palestras proferidas em 1928 para plateias femininas) Mas, dirão vocês, nós lhe pedimos que falasse sobre as mulheres e a ficção — o que tem isso a ver com um teto todo seu? Vou tentar explicar. O título "As mulheres e a ficção" poderia significar a mulher como ela é; a mulher e a ficção que ela escreve; a mulher e a ficção escrita sobre ela; ou uma associação desses três aspectos. Qual deles escolher? Tudo o que posso fazer é oferecer uma opinião acerca de um ponto menor: a mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu se pretende mesmo escrever ficção.  Vou fazer o possível para mostrar como cheguei a esse conceito.   A vida para ambos os sexos — eu os observei abrindo caminho na calçada, às cotoveladas —, é árdua, difícil, uma luta perpétua. Ela exige coragem e força gigantescas. Mais que tudo, talvez, criaturas de ilusão que somos, ela exige autoconfiança. Sem autoconfiança, somos como bebês no berço. Como gerar essa qualidade imponder

Sequência de erros

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Gabriel Marinho se autodefine como “ escritor, roteirista em potencial, dramaturgo fingido, músico de habilidade questionável, desenhista nas horas vagas, (...) mais um que precisa ser alguém além de si mesmo ”. Autor de dois romances publicados e de outros três já prontos, Gabriel acaba de criar o http://sequenciadeerros.blogspot.com/ . Leitores de todas as idades poderão finalmente compartilhar as percepções dessa mente jovem e brilhante sobre “... os erros, os acertos, as evoluções e os regressos que transformaram o mundo de hoje no que ele é ”. (Leia sobre Gabriel Marinho neste blog, no respectivo marcador à direita.)