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Mostrando postagens de outubro, 2010

Li e Amei

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Fiquei encantada com o livro "Estou na quadra", de Fátima Bueno, Thesaurus Editora, 2010, e o recomendo a todos os que amam Brasília, em especial a Asa Norte. Leia um capítulo do livro. (Digigrafia: Lígia de Medeiros)    Conheça o projeto I conografia Aplicada DF , que Fátima Bueno integra como artista plástica.

40º Sarau da Câmara dos Deputados

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Serviço Baile de Máscaras em Veneza - 40º Sarau Literomusical da Câmara dos Deputados Data: 25/10/2010 Hora: 20 horas Local: Teatro Garagem do SESC na 913 Sul. Coquetel: festival de massas com vinho Entrada franca

Esta primavera

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Luci Afonso Esta primavera vou ficar em casa. Deitada no sofá, ouço o grito suicida das cigarras. Debruçada na varanda, recolho pingos frescos de chuva, os primeiros e os últimos. À noite, a lua atravessa a persiana do quarto e ilumina meu corpo, enrodilhado no lençol de quinhentos fios egípcios. Companhia, só quero a do filho, da mãe e do gato, prolongamentos espontâneos de mim. Vozes, somente a dos fantasmas queridos, das crianças bem pequenas ou dos velhinhos solitários. Carícias, apenas a do vento que gentilmente me refresca o rosto. Os homens não me olhem: estou feia. Os amigos não me procurem: estou ausente. Para quê encontrar pessoas? Já conheci todas que posso suportar. Não preciso de fatos — o mundo gira sem mim. Só me interessam a folha caída na grama e o poema sussurrado pela árvore antiga. Desvaneço nesta primavera invertida. Embrenho-me na profundidade escura da terra para implodir meu canto, até que a morte branca do ipê venha me nutrir de seiva bruta para a próxim

Carta

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Mário Quintana Meu caro poeta, Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola traçada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súditos de Ramsés II, o

A rosca

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Luci Afonso — Já chegou? — Será que vem hoje? — Está atrasado! — Custava telefonar? Todo dia aguardava-se ansiosamente a chegada do Túlio, muito querido pelo temperamento alegre e brincalhão, mas, principalmente, pela deliciosa rosca rainha que trazia há quase vinte anos para o café da manhã. Alguns colegas vinham trabalhar em jejum para saborear a iguaria; outros, mais antigos, que já poderiam ter se aposentado, não o faziam por causa da rosca. A copeira, Dona Joana, apesar do diabetes, sempre garantia um pedaço. Ninguém conseguia se concentrar no trabalho antes de comer uma fatia. Às 9h40min, Túlio descia a escada com os cheirosos embrulhos. Sempre trazia acompanhamentos: pães de queijo quentinhos, bolos variados e pães de mel. Um adolescente ficava à porta, encarregado de dar o sinal: — Chegou! — a notícia se espalhava e, em minutos, o corredor estava lotado. A fama da rosca ultrapassara as fronteiras da seção e alcançara os ouvidos do Diretor, que abriu espaço na agen